Ellen пишет о себе
ELLEN COCKBURN
35 ANOS
Escocesa - agente do MI-6 - viúva - mãe - "aquela vaca fria e calculista da Cockburn"
Havia dias que ela nem se lembrava. Todavia, em outros, as memórias ferroavam a cabeça e atormentavam os pensamentos. De repente, tudo vinha a tona: a tensão, a escuridão, o odor pútrido, os tiros, o som de briga corporal, os arquejos, o impacto das balas no colete, a dor de um tiro de raspão no braço, o impacto de soco. Ainda assim, diante desses desafios, ela seguiu pelo corredor, alcançou o alvo no final deste e o guiou para fora. Mais uma missão cumprida, mais uns dias de louvores à assertividade da senhorita Cockburn. O que ela não contava era voltar para o corredor e tropeçar naqueles corpos no chão. Dez, ao todo. Toda a sua equipe de apoio e mais três outros caras. Os outros, os "inimigos", fugiram.
- Vocês estão me demitindo? Depois de tudo o que eu fiz pela agência? – a voz não era alterada, mas o adensamento do sotaque escocês revelava o quão fora de si estava. Ellen só deixava a raiz escocesa transparecer totalmente quando estava além do seu autocontrole.
- Não, Ellen, você será transferida. – suspirou o chefe sem perder seu ar paciente. Nunca fora fácil lidar com Cockburn e ainda pior seria fazer aquilo. – Não podemos perder um talento como você.
- E vão botar esse talento para fazer serviços de secretária para um bando de almofadinhas? – os olhos dela se apertaram e o tom de reprovação era notório. Ela olhou do chefe para a mulher ao lado dele. Havia percebido sua presença, mas a ignorado até então.
- Você passou por um trauma muito grande nesta última missão, Ellen. – quando a mulher falou tinha voz pastosa e sentimentalóide do tipo que causava ainda mais irritação em Ellen. Sentiu o pulso acelerar e um instinto violento de causar dor àquela mulher.
- Foda-se... – deu de ombros ao argumento da psicóloga - Já passei por coisa pior.
- Mas nunca teve pesadelos com isso.. – a mesma mulher comentou com um sorriso compreensivo que fez Ellen querer ter uma arma apontada para a cabeça da sua interlocutora. – Nem desenvolveu fobias como seu recente medo de lugares fechados ou escuros.
- Está decidido, Cockburn. Sem mais discussão! – o chefe se levantou com o olhar imperturbável que causaria medo em algumas pessoas, mas não em Ellen. - Você será transferida para o Palácio de Buckingham na segunda-feira.
- Por que eu, ma'am? – inquiriu com firmeza, sem usar o tom de deferência excessiva que os outros usavam com a velhota.
- Preciso que as coisas sejam feitas, senhorita Cockburn. – foi a resposta que a senhora a sua frente deu.
- Mas, até o momento, só fiquei em trabalhos administrativos. – retrucou com teimosia. - Por que só precisam de minha agora...ma'am?
- Uma das vantagens de ser quem eu sou, minha jovem, é que estou cercada do mais qualificado pessoal de segurança e inteligência. - Ellen viu a dama se recostar na cadeira e a fita-la por cima dos óculos de aros antiquados – Mesmo aqueles que fazem trabalhos burocráticos devem ser qualificados o suficiente para matar um homem adulto com uma caneta esferográfica, pelo menos foi isso que me disseram. – um meio sorriso irônico foi visto nos lábios enrugados da mulher.
- Mas a agência disse... – Ellen teimou em argumentar.
- Em nome de quem a agência e qualquer órgão desse país trabalham, senhorita Cockburn? – quis saber a senhora se levantando na elegante cadeira e apoiando as mãos sob a mesa.
- No da senhora, Majestade. – não mais que um muxoxo saiu dos lábios de Ellen. Era sempre mui